Férias da bicicleta

Não olho para o lado agora, mas acho que estou sendo perseguido por bicicletas.

Sai de férias, não dava para levar bicicleta, então decidi nem pensar nisto. Férias não é época de descansar, é época de esvaziar, tirar tudo do cérebro para depois voltar para o lugar, quem sabe com nova arrumação!!

Cheguei a Foz do Iguaçu, oba, muitos passeios interessantes programados, cataratas, Itaipu, Argentina, Paraguai.

Indo do aeroporto para o hotel, o que é aquilo? uma ciclovia! Não tinha sinalização, pedestres andavam e corriam, mas tinha jeito de ciclovia pelo traçado e construção (depois no hotel me disseram que sim, é mesmo).

Chegamos ao hotel, procuramos logo uma agência de turismo para não perder tempo. Tínhamos poucos dias e muitos lugares. Combinamos tudo com o guia e logo de manhã bem cedo do dia seguinte, saindo do hotel, bem em frente, olha a placa:

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Passeios de bicicleta! Hum, deu vontade!

Continuando para o centro da cidade, que é aquilo? Uma ciclofaixa, claramente sinalizada:

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Apesar disto, não vi ciclistas 😦

Estas primeiras impressões já seriam suficientes para fazer de Foz uma cidade diferente do comum. Convenhamos, uma cidade com ciclofaixa não é algo que se acha tão fácil por estes trópicos. Mesmo que não tivesse ciclovia, Foz do Iguaçu é uma cidade que me impressionou: bem cuidada, limpa – com certeza os muitos royalties de Itaipu devem gerar dinheiro em caixa para cuidar bem da cidade. Mas dinheiro não é tudo, pois um prefeito ladrão e sua corja – isto sim, muito comum por estes trópicos – é praga que devora qualquer orçamento municipal gordo. Não vi favela – talvez o guia tenha desviado delas… A parte feia da cidade fica perto da Ponte da Amizade. Do outro lado da ponte a coisa é tão feia que até o vento deve trazer maus eflúvios. Como turista, gostei muito da cidade, trouxe comigo uma ótima impressão.

Lembro-me agora, falando em impressões de turista, da primeira vez que fui visitar as obras de Aleijadinho em Congonhas. Tive uma impressão tão ruim da cidade, suja, mal cuidada, carros parados em toda parte, sem lei nem ordem, e uns caras oferecendo de tudo, hotel, vigiar o carro, que nunca mais voltei lá. Eu era um burro morto e urubus voavam ao redor.

No dia que chegamos a Foz, tivemos a sorte de encontrar vaga para ver a iluminação da Usina de Itaipu. O evento só acontece às sextas e sábados, poucas vagas, é preciso agendar antes. Ao chegar, o lugar está todo às escuras. Começa uma narração e uma música e as luzes vão sendo acendidas no ritmo marcial. Ao final, isto:

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No dia seguinte, fomos ver as maravilhosas cataratas.

Antes. O Parque das Aves é muito divertido, uma experiência inusitada, aqueles bichos todos, aves e nós no meio delas. Araras dando voos rasantes, tucanos fominhas querendo comer qualquer coisa que estivesse em nossas mãos, jacutingas vaidosas nem davam bolas para olhares de admiração.

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Na saída, um abraço de despedida da jiboia.

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O Parque das Aves fica a poucos metros da entrada do Parque Nacional do Iguaçu. Nosso guia sugeriu que fôssemos logo cedo ver as aves e, em seguida, no mesmo caminho para as cataratas. Ótima dica!

O Parque das Cataratas estava lotadíssimo de gente, mas a placa explica: estávamos numa das 7 maravilhas naturais do mundo!!

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Almoçamos no restaurante Porto Canoas, que fica dentro do Parque das Cataratas. No meio da tarde, fizemos o passeio Macuco Safári, melhor seria Maluco Safári. O desafio é este: subir o rio num barco inflável e entrar debaixo de uma das quedas d’água. Não levei máquina por recomendação dos guias – vai ficar tudo ensopado – mas estas fotos mostram pessoas fazendo o que fizemos.

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olha o tamanho do barquinho!

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Macuco demais!

No terceiro dia, cruzar fronteiras. Fomos para Puerto Iguazu, Argentina.

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Do lado brasileiro a gente vê as cataratas em panorama. Aquele deslumbre, nossa! olha ali! uau!

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Veja mais fotos nesta galeria que criei no Flickr.

O lado argentino, porém, é muito mais bonito. A gente perde o ar quando vê aquela imensidão rio caindo na Garganta del Diablo. É uma coisa assim …(silêncio pasmo de contemplação sem palavras, do mesmo ver o vento forte ventando uma árvore bem velha, uma mulher bem velha, e uma sementinha soltando raízes)…

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Para ajudar, o parque argentino é mais arrumado e mais ecológico. Do lado brasileiro, é um trança-trança de ônibus e mais ônibus, soltando gases e arrotos de efeito estufa. Os argentinos preferiram um trenzinho.

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Eu também!

Depois, fomos comer bife de chouriço num restaurante típico de Puerto Iguazu – Tavares, nosso guia, disse que poucos turistas conhecem. Uma curiosa frase jateada no vidro passou despercebida,

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pois nem vimos o tempo passar.
Compramos alfajores num supermercado e chocolates diet belgas no Duty Free. E, óbvio, perfumes franceses, muitos.

Não foi perda de tempo o quarto dia porque até as piores experiências são válidas como aprendizado. Boi marrudo refuga do ferrão. Resumindo a lição: não mais volto a Ciudad del Este, Paraguai. O que de bom existe ali, a não ser levar vantagem em tudo e sobre todos? A cidade exala sordidez e cupidez. Olhos de aves de rapina na rua.

Passamos o último dia no complexo de Itaipu. Logo cedo na manhã, fizemos o passeio panorâmico.

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Almoçamos nas antigas instalações de construção da represa.

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Do restaurante, fomos conhecer o Espaço do Barrageiro, espaço preservado no antigo alojamento dos trabalhadores. Além da Sala das Artes, gostei deste grafitti que enfeita uma das fachadas:

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Para mim, representa o livro como transmissão de conhecimento e cultura.

No começo da tarde visitamos o Ecomuseu – bem interessante, se não fosse o calor que fazia. Estava em exposição obras de Paulo Bruscky. Gostei mesmo da ideia dele publicar poemas em forma de anúncio no jornal.

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No final do dia, conhecemos o refúgio ecológico. Parece um “zoológico” de cidade do interior. Lembrei do Parque Municipal de Montes Claros, decadente, tão ruim que chegou a ser interditado pelo Ibama. A ideia do refúgio foi boa, mas as instalações para os animais são beeem antiquadas, deprimentes até. Exceto o viveiro da onça. Apenas um vidro separa a felina dos sustos que tomamos cada vez que ela levanta sobre as patas.

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As manchas da onça parecem nebulosas, por isto lembrei que um pouco antes do almoço, fomos ao Pólo Astronômico. Teria sido melhor se fosse visitação noturna – que só acontece nas sextas e sábados (uma boa desculpa para voltar lá!). O sol era apenas uma bolinha vermelha no visor do telescópio.

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Queria ter visto a lua e suas crateras e as estrelas do cinturão de Órion (você sabia que as 3 pirâmides no Egito e as 3 pirâmides de Teotihuacán possuem a mesma disposição espacial e alinhamento deste conjunto de estrelas!?!).

teotihuacanorion
clique na imagem para acessar http://www.ancient-wisdom.co.uk

Para compensar, conheci um relógio solar analemático, coisa que nem sabia que existia!

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A marcação das horas é feita pela sombra do corpo que se projeta na elipse!

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O dia em Itaipu foi ótimo. (Veja mais fotos nesta galeria que criei no Flickr). Cada passeio é vendido à parte, com horários próprios. O Tavares conseguiu montar um cronograma perfeito, bem tranquilo e completo. Na lojinha de souvenires, aprendi uma palavra guarani que entrou na minha lista de preferidas: ñandeva, que significa “todos nós”. (um conceito muito em falta, não é?).

No começo da manhã, antes de passarmos sobre a barragem de enrocamento, visitamos o Centro de Recepção ao Visitante – mesmo local de onde vimos a iluminação noturna. No lugar, há duas obras de arte feitas em homenagem a todos que trabalharam na obra. Uma delas, escultura chamada O Barrageiro. A outra, um grande painel parte azulejado parte em alto relevo. Na página oficial de Itaipu há uma descrição do painel: Entre os detalhes, capas além dos capacetes porque o trabalho não podia parar; detonação de explosivos; e a bicicleta para vencer as grandes distâncias na obra e no lazer.

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trecho do Painel do Barrageiro
detalhe da bicicleta
detalhe da bicicleta

Bicicletas num painel artístico em Itaipu? Sim. Numa obra de arte para homenagear as pessoas que por ali passaram, em vez de megatratores, superescavadeiras e caçambas-monstro, bicicletas? Sim!!
E ainda hoje bicicletas estão por ali, como mostra (malmente) esta foto que tirei de dentro do ônibus.

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Bicicletas por toda parte, não há como fugir ou escapar!

Pensando agora, nem deveria ter cogitado tirar férias da bicicleta.
[hã… é quase meia-noite e escuto um barulho estranho do lado de fora na porta da frente. Um arranhado metálico quase dissimulado. Insiste. Acho que ouvi? um trim-trim tremido e nervoso de campainha de bicicleta…]

[.]

3 comentários em “Férias da bicicleta

  1. Muito bom, Denir. Estou pra ir pra lá, e seu relato caiu como uma luva. E ótima a dica de manter distância de Ciudad del Este!
    Abraço!

  2. Oi Denir, Que maravilha meu amigo, mais uma bela viagem para sua coleção e de sua familia. Desejo que voce tenha sempre estas belas histórias e estas belas fotos para nos mostrar.Grande abraço
    J.Batista

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