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Combatendo a ruína das cidades

Porque é tão grande a ambição dos grandes que, se não sofrer oposição por várias vias e de vários modos numa cidade, logo a levará à ruína.

(Maquiavel, Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, citado na Revista Filosofia, nº 33, pág. 32)

Um povo cheio de virtù [virtude cívica], não se deixa governar por tiranos; um povo corrompido, por sua vez, não consegue reconhecer os benefícios de uma cidade livre.
(…)
Só a virtù do povo, ou seja, só a participação de todos na vida política da cidade, tendo em vista o bem comum e a preservação da liberdade de todos, é que pode manter a cidade a salvo de sua apropriação por interesses privados. A corrupção, entendida como a falta de capacidade de se dedicar energia ao bem comum, priorizando interesses privados em detrimento de interesses da coletividade, tem sua origem, segundo Maquiavel, na desigualdade existente na cidade.
(…)
Bem ou mal resolvida, a virtude cívica é, certamente, um dos componentes que compõem a noção de liberdade

Ester Gammardella Rizzi, Maquiavel, a virtù e a garantia da liberdade, Revista Filosofia)

 

O absurdo de ser: árvore

 

ipê rosa em Brasília (DF)

Hoje é o Dia da Árvore.

Para um mundo paranóico com velocidade, deslocamentos, direito de ir e vir, as árvores são um absurdo completo em sua imobilidade.
Ao ver uma árvore em toda sua plenitude, me pergunto: viver é se deslocar?

A tecnologia forjou máquinas que, enfim, conseguiram separar como entidades distintas o caminho a ser percorrido, a força de propulsão e o viajante. Neste sentido, sim, perdeu-se a noção do humano. Com um motor, qualquer distância é possível. Destrói-se o tempo. A velocidade é um desenraizamento da realidade. Tal como uma droga, a velocidade vicia e cria uma sensação de supra-realidade, de descasamento. É disto que se fala a propaganda de carros ao vender liberdade, porque não há limites para o motor. Libertar-se do mundo e da condição humana de ser limitado. A pé eu ando a 6km/h, de bicicleta vou a 15 ou 25 km/h. Mas com motor, posso ir a 20km/h ou a 140km/h e isto faz toda a diferença.

Pois acredita-se que cada nova tecnologia virá para superar as limitações do Ser Humano. A hipermodernidade forja espaços de transiência, de passagem apenas, que não criam significados suficientes para serem entendidos como lugares. Marc Augé criou o termo “non-lieux” para designar estes não-lugares. São locais de passagem, de velocidade. Supermercados, fast-foods e ruas.

Porém, as árvores são elas seu próprio lugar no mundo. Uma árvore é um lugar. Ela cria signos e referenciais. Tudo por ali passa e se identifica.

ipê rosa
ipê-bola rosa

ipê rosa - detalhe

flores-bola do ipê-bola
flores-bola do ipê-bola

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