Arquivo diário: 05/09/2013

Beatles, Buckingham, Big Ben e bicicletas

Em termos de uso da bicicleta, a Inglaterra está muito atrás de Alemanha, Holanda e Dinamarca. Fica ali na faixa de França, Portugal, Grécia e EUA.

bicycle_use_europe

No Brasil, não temos estatísticas para fazer comparativos, mas tudo indica que estamos nesta mesma faixa de pouco uso da bicicleta. Pois no Rio, que é a capital da bicicleta, apenas 1,7% usam bicicleta oficialmente os ciclistas são 3% e na estimativa da TA, usada pelos governos municipal e estadual. eles são 5%.

Comparando as duas capitais, o uso da bicicleta é muito semelhante:
Londres:   8 milhões hab; 540mil viagens/dia = 1 viagem para cada 14,8 habitantes ou 0.067 viagem por habitante
Rio:  6 milhões hab; 420mil viagens/dia = 1 viagem para cada 14,3 habitantes ou 0.070 viagem por habitante

Mas, em termos nacionais, a diferença é que a Inglaterra está se movendo para mudar a situação.

Recentemente foi publicado o relatório Get Britain cycling, produzido por uma comissão suprapartidária na Câmara dos Comuns (algo como a Câmara dos Deputados). Está publicado aqui.

Em resposta, o Parliamentary Under-Secretary of State for Transport (algo como subsecretário de Transportes, terceira linha decisória), Norman Baker, disse:

The coalition government takes cycling very seriously and we are committed to leading the country in getting more people cycling, more safely, more often.
Many of the recommendations put forward by the All Party Parliamentary Cycling Group mirror those that we are already taking forward so we are ahead on some of the challenges which have been set for us.
However we are keen to go further and faster. The £94 million announced by the Prime Minister earlier this month is an excellent boost and will help to encourage even more people to take to 2 wheels.
https://www.gov.uk/government/news/government-responds-to-cycling-report

(O governo leva a sério o uso da bicicleta e estamos empenhados em fazer que mais pessoas em nosso país usem bicicletas mais vezes e com mais segurança. Muitas das recomendações feitas pelo grupo suprapartidário refletem aquilo que já estamos fazendo, assim estamos à frente daquilo que nos foi cobrado. Entretanto, queremos ir além e mais rápido. As 94 milhões de libras anunciadas pelo Primeiro Ministro é um excelente impulso e vai ajudar a incentivar mais pessoas a adotarem a bicicleta)

Na segunda-feira desta semana, houve um grande debate sobre a bicicleta no Parlamento britânico. Ao final, foi aprovada uma moção, que diz textualmente:

“That this House welcomes the recommendations of the All-Party Parliamentary Cycling Group’s report ‘Get Britain Cycling’; endorses the target of 10 per cent of all journeys being by bike by 2025, and 25 per cent by 2050; and calls on the Government to show strong political leadership, including an annual Cycling Action Plan and sustained funding for cycling.”

(Esta Casa recebe com satisfação as recomendações do relatório Get Britain Cycling produzido pelo All-Party Parliamentary Cycling Group; endossa a meta de 10% de todos os deslocamentos feitos por bicicleta, até 2025, e 25% até 2050; e pede que o Governo mostre forte liderança política, por meio de um plano anual e verbas para o uso da bicicleta)

Não estou falando de Dinamarca, Holanda ou Alemanha, países que estão 50 anos à frente, uma realidade muuuito distante, que pode virar – como já virou algumas vezes – argumento contra o uso da bicicleta: “bicicleta, aqui? não somos a Dinamarca”.

Falar de utopias, ter o paraíso como meta é uma boa desculpa para continuar vivendo a vida tosca de sempre.

Em termos de cultura da bicicleta, a Inglaterra está “apenas” 20 anos a nossa frente. Acho que temos muito que aprender com eles!

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Obviamente, me pergunto: esperar que nosso Congresso, que nosso país tenha este nível de discussão não é também utopia?? Discutirem o futuro das cidades, a sustentabilidade do trânsito e a qualidade de vida nas cidades, nossos deputados??? KKKKK! Quando não estão preocupados em escapar da prisão, eles se dedicam a fazer conchavos e acertos. Ambas as coisas visando apenas seus interesses próprios – nada muito diferente da população que os elegeu, diga-se.

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