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Lista de presentes para ciclistas de todas as idades

Pode ser difícil comprar um presente para quem anda de bicicleta. Às vezes o presente não parece tão útil, ou tão bonito, ou então é muito caro.

Nesta época do ano, é possível encontrar listas pela internet. Uma das listas mais interessantes foi mostrada pela Sustrans. Desde presentinhos, a luzes que piscam (no espírito da época!) até alforjes e cestas estilizados.

Um jogo de cartas, estilo trunfo, que compara as bicicletas mais caras, as mais rápidas, mais fortes.

Ou campainhas de bicicletas pintadas à mão pela designer Annie Legroulx

campainhas

 

Um fazedor de bolha de sabão, que une duas grandes diversões da criançada: fazer bolhas enquanto anda de bicicleta!

Que tal o Spherovelo, uma bicicletinha estilizada para crianças de 10 a 24 meses?

Para ciclistas maiores e mais experientes, um kit de ferramentas Nutter. Combinadas em um conjunto enganosamente simples, a própria capa em couro reciclado quando dobrada torna-se a bolsa que carrega o conjunto.

E os presentes podem ser embrulhados em papeis exclusivos, bicicleta como tema até na etiqueta “de para”.

 

Na loja da Sustrans tem muito mais. Fica no Reino Unido, os preços estão em libras, e o frete fica em torno de 30% do valor da compra.
Recomendo!!

O Natal já passou……?

A lista vale para o ano inteiro, aniversário, dia dos pais, namorados, uma ocasião especial – ou um dia simples e qualquer, como todo dia de pedalada, para deixar um ciclista feliz!

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Bicicletas de bambu, madeira, papelão e sucata

Para sua série Futurando!, a DeutscheWelle fez um especial esta semana sobre bicicletas construídas com materiais inusitados.

Clique na imagem abaixo, que mostra bicicletas feitas de madeira de carvalho, para acessar a página. Depois, clique no vídeo  embutido e assista, 5 minutos.

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Fiquei admirado ao saber que, dependendo da espessura das paredes do bambu, a bicicleta fica mais ou menos macia. Incrível!!

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Do zoológico à selva urbana

Em uma decisão de fim-de-ano, em algum ano passado, coloquei como meta escrever um texto por semana no blog. Nem sempre consigo, pois para escrever sobre alguma coisa, eu gosto de ler antes. E vou lendo, lendo, quando vi o tempo passou e não escrevi.

Nestes dias que correram, pensei em escrever sobre que comecei a ler e estou gostando muito: o Livro do Cemitério, de Neil Gailman (uma boa resenha aqui).

Mas também vi uma galeria de fotos da DeutscheWelle: Um passeio de bicicleta pelo Ahr:

ahr

Até pensei em comentar sobre os moradores de São Paulo que foram registrar queixa na delegacia contra a ciclovia que está sendo construida, mas deixei pra lá. Além de ser um assunto batido e de menos importância – motoristas irritados com a perda de espaço para bicicletas –  outras pessoas já falaram sobre o fato, como a Raquel Rolnik.
E foi mais ou menos o que aconteceu aqui em Brasília: de uma hora para hora o governo começou a implantar ciclovias, sem aviso, sem consultar a população, sem diálogo – parece ser a prática do partido.

Quando comecei a traduzir uma notícia da Sustrans, anunciando que, na Inglaterra, cada vez menos pessoas andam de carro, e mesmo assim o governo britânico insiste em políticas de ampliação das vias para carros, a BBC lançou seu desafio semanal para os leitores enviarem uma foto sobre determinado assunto. O tema da vez era ciclismo, e pensei: vou anunciar no blog. Mas a BBC é muito rápida, um ou dois dias depois de fazer o convite eles já colocam as fotos.
Primeiro foram mostradas as fotos tiradas pelos leitores ingleses:

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Alex Inman viu e clicou este grafite em uma rua de Georgetown, na Malásia. As duas crianças pintadas parecem estar pedalando sobre a bicicleta, real, encostada no muro.

Em seguida, as fotos tiradas pelos brasileiros. Veja todas aqui.

Quando estava escolhendo qual das minhas fotos iria mandar (acabei não mandando…) vi na mesma BBC esta notícia que é a cara do blog.

A Dinamarca projeta um zoo com animais soltos e público ‘invisível’. No projeto Zootopia, do renomado arquiteto Bjarke Ingels, os visitantes são escondidos em cápsulas espelhadas e as jaulas são eliminadas.

“A maior e mais importantes missão de um arquiteto é projetar ecossistemas feitos pelo homem, garantir que as nossas cidades e edifícios sejam adaptados ao nosso estilo de vida”, afirmou o fundador do Bjarke Ingels Group (BIG).

“Temos que garantir que as nossas cidades ofereçam uma estrutura generosa para pessoas de origens, sexos, níveis econômicos e de educação e idades diferentes. Para que todos possam viver juntos em harmonia ao mesmo tempo em que levamos em conta as necessidades individuais e o bem comum.”

Quando vi esta foto que ilustrava o texto da BBC, pensei: Ué, o menino está andando de… bicicleta?? Sim, uma bicicleta com certeza.

Ainda meio na dúvida, fui conferir o saite oficial do arquiteto http://www.big.dk/#projects

O que a BBC não disse nem mostrou é que a Zootopia carrega dentro de si a bicicleta, como pode ser vista nesta imagem:

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– e ao desperceber a bicicleta, nisto a BBC foi seguida por todos que replicaram sua notícia (G1, Uol, Bol, Etc), iguais aos motoristas nas ruas que dizem “ah, eu não vi o ciclista…”

Atenção!
As bicicletas são peças centrais na concepção, como se pode ver nas imagens originais:

O arquiteto usa bicicletas e fala em “viver juntos em harmonia ao mesmo tempo em que levamos em contas as necessidades individuais e o bem comum”. Não é por acaso que ele escolheu a bicicleta!! Para quem anda de bicicleta (e a Dinamarca é exemplo e paradigma disto) é natural este modo de ver o mundo.

Não foi mera coincidência ou escolha por acaso.
No memorial do projeto se lê: “We are pleased to embark on an exciting journey of discovery with the Givskud staff and population of animals (…) but indeed also to discover ideas ans oportunities that we will be able to transfer back into the urban jungle”.

“Estamos satisfeitos em embarcar numa excitante aventura de descobertas com o pessoal e os animais de Givskud [o zoológico], mas também com a possibilidade de descobrir novas ideias e oportunidades que poderemos transferir para a selva urbana.”

Quem reclama de ciclovias e bicicletas ou fica exigindo mais e mais estacionamentos para carros e ampliação de vias, e ainda aqueles que mandam cortar árvores porque elas representam “perigo para os automóveis” (!), esses ainda não captaram a essência do nosso tempo e do futuro. Vamos viver cada vez mais em harmonia com a Natureza, não por ideologia, mas por necessidade. E para as cidades, que hoje são gaiolas de proteção contra a Natureza “selvagem”, nas cidades precisaremos deixar a Natureza entrar.

Isso será um futuro distante. Antes, vamos recuperar o espaço urbano em si e fazer as ruas voltarem a ser um lugar de passagem sim, mas também de lazer, de contemplação, de simbiose com a cidade e suas construções e monumentos. Hoje, lotadas de automóveis, as ruas são cercas e fossos.

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As cidades estão fragmentadas em dezenas de quarteirões e quadras. As pessoas estão acuadas, com medo e neuróticas, indo e vindo repetidamente como se buscassem uma saída – igual aquela avestruz ou o lobo-guará no zoológico.

As bicicletas são peças centrais nas cidades do futuro. Invisíveis, espelhadas, com a intervenção necessária, mas mínima possível, pedalando-as poderemos apreciar as cidades no que elas nos oferecem de melhor: segurança e espaço de convivência.

Na cidade do futuro, ir para a escola, para o trabalho, para fazer compras ou um festa pode ser e será tão prazeroso e agradável como a ciclovia do Ahr, um caminho bucólico entre vinhedos e castelos germânicos.

a moda é bicicleta!

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Está acontecendo hoje, 26 de setembro, em Munique, o 3. Münchner Radl&Fashion Show, desfile de moda e bicicletas.

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O desfile faz parte da campanha para incentivar o uso da bicicleta. Munique tem cerca de 1,4 milhões de habitantes (poderia ficar entre as 10 mais populosas do Brasil) e 1.200 km de ciclovias (mais do que todas as cidades do Brasil juntas…). Em 2010, o ciclistas da cidade, somados, pedalaram 170 mil quilômetros. Mesmo com tudo isto, em 2010 a prefeitura da cidade lançou a campanha Radlhauptstadt, para fazer da cidade a “capital das bicicletas” da Alemanha.

Por enquanto outra cidade leva este título: Münster. De acordo com uma pesquisa da ADFC, considerando as cidades alemãs com mais de 200 mil habitantes, Munique está em 11º lugar, atrás de Freiburg, Karlsruhe, Kiel, Oberhausen, Hannover, Bremen, Rostock, Frankfurt e Leipzig.

[ADFC = Allgemeinen Deutschen Fahrrad-Club, algo como Federação Alemã dos Usuários de Bicicleta]

Mas a própria ADFC reconhece que Munique se destaca pelo empenho e pela campanha. E pela visão de futuro: fazer as pessoas andarem de bicicleta é muito mais uma questão de mudança de cultura do que construção de infraestrutura. Obviamente, construir ciclovias facilita a mudança cultural, ao oferecer modos de transpor barreiras pessoais, mas não é suficiente. É preciso que pessoas e governantes vejam a bicicleta com outros olhos.

Das Fahrrad ist mehr als ein bloßes Fortbewegungsmittel – es ist Ausdruck des individuellen Lebensstils vieler Münchnerinnen und Münchner.

A bicicleta é mais do que apenas um meio de transporte – é uma expressão do estilo de vida individual de muitas pessoas.

Radfahren steht für städtische, elegante Mobilität mit Zukunft und Stil.

Andar de bicicleta é uma opção de mobilidade urbana elegante, com futuro e estilo.

[As frases em alemão foram copiadas da página da prefeitura de Munique!]

O desfile acontece no Muffathalle, um misto de café, casa de shows e eventos. Veja como foi em 2012:

O evento foi aberto pelo vice-prefeito, que também chega pedalando no final do video. A passarela mostra criações de estudantes de moda, estilistas e designers de Munique. Uma bicicleta folheada a ouro, levada por uma loira vestindo todo dourado, fecha o desfile com chave de… ouro! 🙂

Promover a bicicleta é despertar desejo.

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Sonnette pour vèlo

Por falar em viagens, tenho que mostrar aqui uma campainha de bicicleta que minha irmã trouxe da França para mim.

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O texto na página da Pylones fala em “impor presença na selva urbana e prevenir os perigos e ainda usar a campainha se estiver atrasado”. Felizmente não preciso usar campainha para isto. Toco de vez em quando, para avisar pedestres distraídos à noite, nos caminhos ermos do Plano Piloto. Não uso esta francesa, mas uma campainha nacional – bem fraquinha aliás, já está funcionando mal-e-mal, às vezes trava, outras vezes fica rouca…

O slogan da Pylones diz que eles transformam objetos do dia-a-dia em presentes. Por isto, confesso que fiquei com dó de colocar a campainha francesa sobre o guidão da bicicleta!! Está aqui na bancada da minha biblioteca

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ao lado do computador, sorrindo para mim todo dia!

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Capas de livros

Encontrei o blog She walks softly pelo painel de destaques do WordPress.
O blog se define como um palco de esquisitices artísticas.

Muito bom! Gosto do clima gótico, sombrio e soturno, um pouco mórbido às vezes. Mas não é só isto: coloque pitadas de surrealismo e Dana, a autora, tem ótimo senso de humor. E um especial bom gosto para arte.

Mais de uma vez ela fez seleção de capas de livros que me deu inspiração para fazer igual, com livros publicados por aqui. Teria que selecionar nas minhas estantes, e ainda vasculhar bibliotecas. Nos sebos, teria que pedir permissão para fotografar as capas 😐

Enquanto não encontro tempo para fazer, mostro a seleção de capas “assombradas” que ela colocou neste post. Aprecie (mas não abra à meia noite!)

imagine o trabalho que deu para fazer as gravações nesta capa, numa época que não tinha computador nem editores de imagens!

e esta, então?? um trabalho de ourives!

primeira edição das Flores do Mal, 1858; me parece ser uma placa de metal trabalhada, colada ao couro da capa

nenhum e-book é capaz de substituir isto… fico imaginando a textura da capa, uma sensação de bordado, cada linha e letra sensível ao tato.. e a sobriedade do dourado destacando-se dos demais tons de preto e cinza? pura arte!

Outro trabalho genial. O título do livro me deu vontade de lê-lo: A terra encantada da ciência (tradução minha). Fadas soprando ventos, fazendo nascer flores e jogando água nas letras do título, formando estalactites. Para fazerem o preto e o dourado sobre a capa azul, no mínimo duas ou três sessões de gravação na tipografia. Maravilha!

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FLIZ não é bicicleta!

Esta semana estourou na internet o fenômeno FLIZ, que muitos estão chamando de bicicleta.

UberGizmo  chegou a chamá-la, educadamente, de um “exemplo de redundância”. Já o Treehugger  viu pontos favoráveis, como ser um protótipo que realmente funciona e, mesmo que não tenha as vantagens da bicicleta, não deixa de ser uma ideia interessante.

Chamar de bicicleta é um equívoco duplo.
Primeiro: porque não é bicicleta.

Dar nomes às coisas é importante, é uma das funções da linguagem. Não se pode chamar de bicicleta o que não é bicicleta. Nem tudo que colocamos na cabeça é chapéu. As atuais “bicicletas” elétricas, por exemplo, não são bicicletas, mas motocicletas elétricas (motor + cicleta), pedelecs ou qualquer outra coisa. As pessoas tem sido criativas ao criar coisas, mas ao nomeá-las… quanta falta de criatividade!

Claro que 80% disto é problema da mídia, que não é feita nem para pensar nem para fazer pensar, e na pressa coloca tudo no mesmo balaio. Sabe como é a mídia e a sociedade do espetáculo: o que importa é mostrar primeiro e chamar a atenção – e hoje em dia, com as geleiras do Ártico todas derretidas pelo efeito estufa e as cidades retidas pelos automóveis, bicicleta virou sinônimo messiânico. Colocar bicicleta numa manchete é sinal certo de audiência 🙂

Segundo, e mais importante: porque os próprios construtores do protótipo claramente colocaram a FLIZ um conceito intermediário entre “correr e andar de bicicleta”.

O projeto é alemão e concorre ao prêmio James Dayson Award. No memorial descritivo, os autores apenas disseram que se inspiraram num antepassado da bicicleta, o modelo do barão von Drais.

Dizem ainda que a FLIZ é uma adaptação do modo mais natural de transporte – a marcha a pé. O nome FLIZ vem do verbo alemão flitzen = andar ou mover-se rápido. A confusão deve ter aumentado porque usaram peças de bicicleta para construir o protótipo:

mais fotos aqui

O sistema de correias ajustáveis dá liberdade e sustentação ao corpo, proporcionando alívio nas articulações. “Graças a estas propriedades pode-se imaginar qualquer uso na área de reabilitação física e exercícios”. E relatam que uma das perguntas que orientou o projeto foi: “Como poderemos dar mobilidade a certas pessoas que, por alguma razão, não podem andar de bicicleta?”

Em nenhum momento disseram que é uma “bicicleta sem selim e pedal”, pelo contrário, dizem explicitamente que não é.

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Pontes e passagens

Passagens subterrâneas não são ruins.

Há muitas soluções boas e civilizadas mundo afora, como esta em Phoenix (EUA):

ou esta, em Manila (Filipinas):

Veja muitas outras soluções numa busca Google com o termo pedestrian underpass

Mesmo aqui em Brasília, as passagens do metrô são muito boas!

(descobri agora que não tenho boas fotos das estações do metrô na Asa Sul… 😦 na verdade, só esta acima, mais focada nos pedestres do que na arquitetura da passagem. Fico devendo, e depois mostro aqui no blog).

As passagens subterrâneas de Brasília foram e são demonizadas pelo descaso e abandono do GDF.

O povo, parvo e porco, também contribui muito para deteriorar o interior da passagem, jogando lixo e deixando excrementos corporais de todo tipo.

A mídia reforça e acrescenta, pois pensa dentro da bolha carrocrática. As passagens subterrâneas são manchetes apenas porque motoristas atropelam e matam pedestres no eixão (causando “transtorno para os motoristas e o fluxo”), e não porque os direitos dos pedestres são usurpados e ignorados.

Obviamente os túneis possuem 3 grandes defeitos estruturais: 1) a IgNóbil esquina; 2) a escada muito íngreme, e 3) são muito estreitos. As passagens da Asa Norte possuem rampas de acesso, porém mal e porcamente construídas, muito estreitas, causam desconforto em quem passa, sensação de clausura.

Por isto, não sou contra passagens subterrâneas. Mas com certeza prefiro as pontes.

Parece uma maquete para o eixão, não parece? Mas é uma solução construída na cidade de Windsor, Canadá – veja aqui, em inglês. A intenção é que a ponte se transforme num jardim suspenso:

Infelizmente a topografia da Asa Sul não permite construir algo igual. Mas que tal esta:

Uma ponte para pedestres em Chicago. Não tem uma arquitetura arrojada como Brasília?

Veja lindíssimos outros exemplos de pontes pesquisando pedestrian overpass no Google. No Skycraperpage.com também há excelente coletânea de imagens.

São soluções que podem ser copiadas em Brasília? Não, copiadas não! mas com certeza podem ser adotadas aqui como conceito, respeitando topografia, linhas de calçada, tombamento, etc. Neste caso, mais do que garis, niemeyers fazem, sim, a diferença com soluções criativas. O que falta?

Falta apenas carinho com os pedestres, deixar de tratá-los como subcidadãos. Se constroem uma ponte JK para carros, por que erguem apenas gaiolas amarelas para pedestres??

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Gente não é tatu

Foi divulgado o vencedor do concurso para revitalizar as passagens subterrâneas do eixão. Um escritório de arquitetos, de São Paulo, foi o escolhido.

Embora tenha insistido em deixar o túnel com esquinas – o maior fator de insegurança das passagens -, a proposta é realmente boa. Fiquei mais impressionado pela articulação com uma futura (?) ciclovia do Eixão. E com a proposta aberta e declarada de não incluir estacionamentos cobertos para automóveis.

[Peraí!! no Termo de Referência do concurso falaram em estacionamentos cobertos para carros nas passagens subterrâneas!! Perderam o senso do ridículo – o vício faz isto com as pessoas…]
[não se pode construir um metro quadrado em Brasília sem pensar nos automóveis???]

Voltando. Ainda bem que a proposta ganhadora descartou essa insensatez. Mas acho que poderiam ter ido além. As passagens subterrâneas tiveram seu traçado original alterado quando construíram as alças laterais que ligam os eixinhos ao comércio. Para dar prioridade ao carro, a via passou bem em cima da antiga saída das passagens e fizeram “esquinas” no túnel para desviar a saída para outro lugar. Esta foto, do Arquivo Público do DF, reproduzida no livro Arquivo Brasília, de Lina Kim e Michael Wesery, mostra qual era o traçado original das passagens subterrâneas:

Aliás, a foto está reproduzida na proposta do 2º colocado, que foi feliz ao mostrar isto, mas infeliz em outros pontos. Paraciclo? O que é paraciclo? Se propõe um acesso linear, por que manter o antigo e as “esquinas”?

Só quem usa todo dia as passagens subterrâneas sabe que a esquina é o ponto de maior insegurança. Uma esquina dentro de um túnel estreito… merece o Prêmio Ignóbil. É comum, muito comum a gente ver cabeças dos malas escondidos. Eles ficam parados na esquina para dar o bote surpresa. Mas também é comum o senso de comunidade. As pessoas notam os bandidos tocaiados e espalham o alerta. Nesta hora, o fluxo de pedestres passando por cima das vias é bem maior. Por vezes fica um assaltante na saída da passagem, boca do túnel, monitorando, e outro esquinado dentro da passagem.

Uma proposta recebeu menção honrosa ao propor a passagem sob(re) o eixão. Isto mesmo, uma grande faixa de pedestres, com semáforos e tudo mais! É a cidade que queremos, gente não é tatu pra viver em buracos, mas Brasília ainda não está preparada para isto – tanto que a proposta não ganhou.

[mas aqui é preciso fazer outro parêntesis: faixa de pedestres com semáforo mantém a prioridade do automóvel; além disto, existe faixa de pedestre com semáforo nas quadras comerciais, mas a maioria das botoeiras está quebrada, não adianta acionar para o sinal fechar! Em outros semáforos, o tempo de abertura é mínimo e o tempo de espera do pedestre se estende por mais de 2 minutos :-(][ou seja, mesmo semáforo não resolve, se não houver manutenção e – sobretudo – prioridade ao pedestre, sempre]

Esta proposta foi muito avançada ao propor a faixa sobre o eixão, com semáforos, mas regrediu muito ao manter o estacionamento coberto para automóveis e ao propor ciclovia no canteiro central dos eixinhos. Como é que o ciclista faz para chegar e sair de uma ciclovia no meio de duas pistas lotadas de carro?

Impressionante como o governo e as cabeças pensantes dão voltas e mais voltas para deixar tudo como está. Duplipensar.

A solução para pedestres e biciclistas é simples: deixá-los sempre em primeiro lugar, em primeiro plano. Pense no simbolismo dos planos: o pedestre lá no fundo, escória escondida. Subterrâneas, submissão, subjugados. E os automóveis no alto, ao plano das grandes construções arquitetônicas, brilhando sob o céu de Brasília! Revitalizar uma solução urbanística que enterra pedestres para priorizar o automóvel é continuar pensando dentro da mesma bolha, é reforçar décadas de políticas urbanas sobre rodas.

“Todo poder ao pedestre, restrições ao automóvel” – nem mesmo um governo “popular” consegue levantar esta bandeira, pffffffff…….

Um dia, estava passando pela passagem da 103-203 sul e vi um homem catando papéis e varrendo o chão. Não sei o nome, mas vamos chamá-lo de Garibaldo, o Gari. Gari não só fazia o serviço dele, mas tentava consertar uma lixeira quebrada, sem sucesso. Além de estar com o suporte quebrado, a lixeira tinha um furo no fundo. Mas Gari não desistiu, deu uma ajeitada aqui e ali para deixar a lixeira mais em pé, colocou um saco de lixo para a sujeira não passar pelo buraco.

As cidades precisam disto. Menos niemeyers e mais garis. As passagens subterrâneas sob o eixão, como estão hoje, são uma aberração. Mas estão ali. Se pelo menos fossem limpas várias vezes ao dia, tivessem iluminação, fossem policiadas, resolveria o problema hoje, agora, sem precisar obras faraônicas e vaidades arquitetônicas.

Brasília está cheia de “espaços de convivência”, de lugares – vazios, abandonados, vandalizados. Pode-se pensar em construir, inovar, mudar, mas por que não conservar antes o que já existe?

Por falar em concurso de revitalização, o que aconteceu com o projeto de revitalização da W3? Em 2002 teve concurso nacional, boas propostas e tudo mais. Ops, já lá se vão 10 anos e nada ainda!? O projeto ainda está em análise nas entranhas do GDF.

[contudo, em menos de 4 anos vapt-vupt implodiram um circo um estádio, estão gastando milhões para erguer outro circo estádio, um elefante branco que vai sobrar para um campeonato de 3ª divisão,

e o projeto da W3 tem 10 anos e ainda está em análise e ainda falam que a política de mobilidade é prioridade?][peraí que vou ali vomitar!]

Ah, entendi. Quando for 2022, esta proposta de revitalização das passagens subterrâneas, que ganhou o concurso agora, ainda estará em análise.

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Árvores em bicicletas

Em geral somos surpeendentemente conservadores quando pensamos no material de que as coisas são feitas. Um armário feito de peças de bicicleta? Seria estranho…

E uma bicicleta feita de um armário? Mais estranho ainda?

Pois é isto que faz a dupla Bill Holloway e Mauro Hernandez, de San Jose, Califórnia (EUA). Donos da empresa Masterworks Wood and Design, eles já esculpiram 10 bicicletas de madeira, todas cruisers ou praieiras.

O verbo é este mesmo: esculpiram. As bicicletas são verdadeiras obras de arte

como bem diz o slogan que eles adotaram para o negócio: Art you can ride (Arte que você pedala).

Eles passam horas em busca dos mais belos móveis usados para reaproveitar a madeira. Uma belíssima aplicação do segundo princípio dos “3Rs”, reduza, reuse, recicle. Também aproveitam árvores urbanas condenadas, uma forma de salvá-las, de lhes dar nova vida e reescrever sua história.

As bicicletas custam entre US$ 5.500 e 7.500 (R$9.900 e 13.500). Mesmo assim, como gastam muitas horas entalhando as peças, o lucro é quase nenhum por enquanto.

Holloway já trabalhava com arte em madeira, abriu uma marcenaria para atender casas de alto luxo. Sabendo pouco de escultura, Hernandez, que tem excelente habilidade como desenhista, coloca no papel as ideias do parceiro de negócio.

A ideia de construir bicicletas de madeira foi de um amigo, que conhecia a paisão de Holloway por bicicletas e arte em madeira. Primeiro eles fazem um protótipo de madeira compensada, depois entalham a bicicleta. Em cada um destes trabalhos gastam cerca de 85 horas.

Veja, neste vídeo, parte do processo de produção:

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O quadro é feito de mogno, que garante força e flexibilidade. O acabamento é feito com óleo de pau-rosa brasileiro – o mesmo óleo que é a base do perfume Chanel nº 5 e outros.

Atenção: estima-se que, no Brasil, mais de 2 milhões de árvores pau-rosa tenham sido derrubados, sem o correspondente replantio, o que levou a árvore a ser incluída na lista de espécies ameaçadas 😦

Visite woodbicycle.com, ou clique em qualquer das iamgens acima, e veja a coleção de bicicletas, em dezenas de fotos em alta resolução. Para ver, admirar, babar, e ficar com vontade de pedalar uma obra de arte destas!

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– com informações do jornal Santa Cruz Sentinel, por indicação da Flavia Nepomuceno, e do TreeHugger –

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